Rampa ardente: desafios da cadeia fria latino-americana
- crossbbrasil
- há 5 dias
- 3 min de leitura
Quebras de temperatura em rampas aeroportuárias põem em risco vacinas e medicamentos na América Latina.
JOGO RÁPIDO: A América Latina enfrenta um momento de urgência: a proteção de vacinas e medicamentos depende hoje mais da capacidade de integrar tecnologia, processos e regulação do que de esforços isolados. Grandes aeroportos como GRU mostram que a adoção de padrões internacionais e rastreamento em tempo real reduzem risco, mas para proteger pacientes em toda a região é preciso ampliar cobertura de certificações (CEIV), modernizar práticas de handling nas rampas e incentivar a cooperação entre aeroportos, operadores, transportadoras e agências reguladoras — um conjunto de medidas que traduzem segurança sanitária em competitividade logística.
Em aeroportos da América Latina, a maioria das quebras de temperatura ocorre nas rampas durante descarga e espera. Grandes hubs como GRU adotam rastreamento em tempo real e padrões CEIV Pharma, mas a cobertura regional é desigual. Técnicas como coberturas térmicas, veículos climatizados e monitoramento IoT ganham força. Cooperação entre aeroportos, operadores e reguladores é essencial.
Manter a integridade de produtos farmacêuticos sensíveis à temperatura durante todo o fluxo de transporte aéreo é um desafio operacional crítico na América Latina . As rampas aeroportuárias aparecem como ponto de vulnerabilidade recorrente. Reportagens recentes e análises do setor apontam que grande parte das violações de faixa térmica acontece durante a manipulação em solo: descarga de aeronaves, permanência em pallet na rampa e movimentação até as câmaras frias.
No Brasil, o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU) tem sido apresentado como caso de avanço: além de infraestrutura dedicada ao setor farmacêutico, o terminal de cargas trabalha com rastreamento em tempo real e aderiu a práticas e redes que promovem maior segurança no manejo de produtos sensíveis, como a adesão a iniciativas da comunidade pharma e certificações setoriais. Entretanto, a existência de um ou outro hub certificado não elimina os riscos sistêmicos quando a malha regional — composta por muitos aeroportos menores e manipuladores sem certificação — opera com processos e níveis de controle heterogêneos.
A certificação IATA CEIV Pharma (Center of Excellence for Independent Validators in Pharmaceutical Logistics) é hoje o principal selo internacional que uniformiza requisitos de infraestrutura, documentação, treinamento e monitoramento para reduzir desvios térmicos. Sua implementação em aeroportos, agentes de handling e empresas de logística demonstra ganhos de governança e redução de incidentes — porém a adoção ainda é desigual na região. Alguns players em países selecionados já possuem certificações (operadores, handlers ou terminais), enquanto muitos pontos de transbordo continuam sem auditoria externa padronizada.
Um caso bem-documentado na região é o do Aeroporto de Carrasco (Montevideo/MVD), que obteve e renovou certificação CEIV para operações farmacêuticas, o que fortalece a posição do Uruguai como hub regional de cadeia fria. No Chile, operadores e terminais como Depocargo e empresas integradoras também buscaram certificações e recertificações CEIV para elevar práticas de manipulação farmacêutica. No México, hubs e players logísticos (incluindo operações de grandes integradores e alguns cross-docks em MEX e GDL) têm ampliado certificações CEIV em resposta à demanda.
Já na Argentina existem iniciativas pontuais entre handlers e integradores, mas não há cobertura universal em terminais de carga. Técnicas e tecnologias emergentes vêm sendo testadas para mitigar exposições térmicas nas rampas: Coberturas térmicas e lonas de proteção aplicadas imediatamente após a descarga; unidades climatizadas e reboques refrigerados para deslocamento rápido até câmaras frias; soluções IoT com sensores de temperatura / GPS que emitem alertas em tempo real e geram rastreabilidade. Processos Golden Route (rotas internas prioritárias para cargas farmacêuticas) que reduzem o tempo de exposição entre avião e câmaras. Essas medidas já mostram resultados quando combinadas com treinamento e SOPs (procedimentos operacionais padrão).
Os custos do problema são altos e multifacetados: além do valor dos produtos perdidos (estimativas setoriais calculam perdas bilionárias anuais globais por falhas na cadeia fria), há impactos regulatórios — devoluções, atrasos em ensaios clínicos, risco à saúde pública — e perda de confiança de fabricantes. Instituições privadas e públicas vêm financiando projetos-piloto e upgrades de infraestrutura, mas o ritmo de investimentos ainda é insuficiente para cobrir toda a demanda regional.
A realidade operacional latino-americana traz obstáculos adicionais: rotas longas que atravessam zonas climáticas distintas; trânsito e tempos de espera em hubs intermediários; e, em muitos casos, a falta de integração entre aeroportos, operadores logísticos e autoridades sanitárias que poderia padronizar requisitos de acondicionamento. Vários especialistas defendem um pacote de ações: ampliar a certificação CEIV para handlers e hubs críticos; exigir monitoramento em tempo real nas operações; padronizar rotas internas e tempos máximos de exposição; e fomentar investimentos públicos-privados em infraestrutura.
LIGAÇÕES EXTERNAS AIR CARGO WEEK – IATA – PHARMA.AERO – TEcnologística – CAAP – DEPÓCARGO





Comentários