Crise global de caminhoneiros pressiona a logística mundial
- crossbbrasil
- 11 de nov.
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Atualizado: 28 de nov.

ED: 08 - 08 A 14.11.25 -
Brasil, EUA e Europa enfrentam escassez histórica de motoristas de caminhão, com impactos diretos nas cadeias de suprimento.
A escassez de caminhoneiros deixou de ser um problema localizado para se tornar um fenômeno global, com reflexos diretos no custo do transporte, na inflação e na eficiência das cadeias logísticas. Do Brasil aos Estados Unidos, passando por países europeus, a dificuldade de atrair e reter profissionais ao volante de veículos pesados expõe vulnerabilidades estruturais da economia global.
No Brasil, o alerta é dado por um levantamento da Ilos Consultoria, que aponta uma redução de 5,6 milhões para 4,4 milhões de motoristas com habilitação profissional (categorias C ou E) entre 2015 e 2024 — uma queda de 22%. A retração preocupa empresas do setor logístico e o próprio governo, pois cerca de 65% de toda a carga brasileira circula por rodovias.
De acordo com a consultoria, os principais fatores são a desvalorização da profissão, a insegurança nas estradas, as longas jornadas e o surgimento de alternativas de renda, como aplicativos de transporte urbano. “É uma profissão que exige muito e oferece pouco retorno”, sintetiza o relatório.
Nos Estados Unidos, a situação também é crítica. Segundo a American Trucking Associations (ATA), o país enfrenta um déficit de cerca de 78 mil motoristas desde 2022 — o maior da história recente. A previsão é de que o número possa chegar a 160 mil até 2030 se não houver mudanças estruturais. O problema, de acordo com a ATA, resulta de uma combinação entre envelhecimento dos profissionais, baixa entrada de jovens, custos elevados de formação e condições de trabalho adversas.
Um estudo citado pelo portal Truck Drivers US estima que a escassez custe à indústria de frete norte-americana US$ 95,5 milhões por semana. Grandes transportadoras têm recorrido a programas de incentivo e campanhas para atrair novos motoristas, inclusive mulheres — que ainda representam menos de 10% do total.
Na Europa, o cenário é igualmente preocupante. Relatório da International Road Transport Union (IRU) revela que o continente registrava 425 mil vagas abertas para motoristas em 2021 e que o déficit pode saltar para 745 mil até 2028. A entidade calcula que um em cada dez caminhões esteja parado por falta de condutor. As causas se repetem: força de trabalho envelhecida — com média de idade acima de 47 anos —, baixa participação feminina (menos de 5%) e dificuldade de atrair jovens para uma atividade vista como exaustiva e pouco valorizada.
No caso europeu, há ainda o impacto do Brexit, que reduziu o número de motoristas estrangeiros em circulação no Reino Unido, agravando gargalos de distribuição em países vizinhos. Em 2021, supermercados britânicos registraram escassez temporária de produtos básicos, evidenciando a interdependência entre transporte e abastecimento.
Embora cada região tenha suas particularidades, os fatores estruturais são convergentes. A profissão de caminhoneiro se tornou menos atraente diante de condições de trabalho precárias, baixa remuneração relativa, pressões por produtividade e mudanças sociais que valorizam empregos com maior previsibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
No Brasil, o impacto da falta de motoristas já se traduz em perdas econômicas diretas. Empresas catarinenses calculam prejuízos mensais de até R$ 30 milhões devido à dificuldade de encontrar profissionais disponíveis para o transporte de cargas. O cenário ameaça setores estratégicos, como o agronegócio e a indústria de transformação.
A crise também impulsiona iniciativas tecnológicas e debates sobre automação. Fabricantes como a Hyundai, em parceria com a PlusAI, já testam caminhões autônomos movidos a hidrogênio, como o XCIENT Fuel Cell, que completou um percurso de 450 km sem intervenção humana em 2024. Ainda que a automação total esteja distante, o movimento sinaliza uma tendência de mitigação parcial da escassez por meio de tecnologia.
A falta de caminhoneiros, seja em estradas brasileiras, norte-americanas ou europeias, não é apenas uma questão de recursos humanos, mas um indicador de vulnerabilidade logística. Em um mundo cada vez mais dependente do transporte rodoviário e do comércio eletrônico, a capacidade de atrair e reter motoristas será determinante para o equilíbrio das cadeias produtivas e para a competitividade global.



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