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Presidente da CCR fala em entrevista sobre anúncios do novo governo

Marco Aurélio Barcelos considera que o sinal mais positivo foi a confirmação da continuidade da agenda de concessões e o compromisso de cumprimento dos prazos para entregar os projetos.


Texto original - BN Américas



Nem todas as rodovias atendem aos interesses privados.

Embora os planos de maiores investimentos públicos em rodovias e a continuidade da agenda de concessões tenham sido bem recebidos pelos players brasileiros do setor de infraestrutura, o ambiente de negócios ainda precisa melhorar – por exemplo, com a estruturação de mais operações no modelo de project finance non-recourse.


Marco Aurélio Barcelos, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), conversa com o BNamericas sobre os planos do governo em relação a este e outros temas.


BNamericas: Qual é a avaliação da ABCR sobre os primeiros anúncios do governo federal com relação à agenda rodoviária?


Barcelos: O principal e mais positivo sinal foi com relação à continuidade da agenda de concessões e também o compromisso de cumprimento dos prazos para que esses projetos sejam oferecidos. Por exemplo, foi importante a sinalização sobre o avanço da concessão dos lotes de rodovias no Paraná. Paralelamente à agenda de concessões, considero também importante a sinalização que o governo deu de que vai aumentar os investimentos públicos em rodovias.


Nem todas as rodovias no Brasil hoje atraem o interesse do setor privado. Porém, o governo, ao assumir projetos de melhorias dessas rodovias, pode no futuro gerar um aumento no fluxo de tráfego e fazer com que elas sejam também trechos interessantes a serem oferecidos através de contratos de concessão em algum momento. A melhoria da malha rodoviária no país acaba sendo benéfica para todos os lados.


BNamericas: Quando é provável que ocorra qual a demanda que vocês esperam?


Barcelos: Sobre o leilão das concessões do Paraná e a expectativa é que este leilão aconteça o quanto antes, uma vez que isto já está sendo estruturado a algum tempo. Existe sim demanda para estes lotes, só que não podemos demorar para fazer este leilão, porque quanto mais tempo passa, maior é a depreciação do ativo.


Claro que a mudança de governo gerou um atraso nesse processo de concessão, mas foi importante o fato de que não voltamos à estaca zero.


Acho que é factível imaginarmos que ainda no primeiro semestre tenhamos a publicação do edital e não seria impossível também termos o leilão neste primeiro semestre ainda.


BNamericas: É possível uma mudança no modelo de concessões de rodovias federais para incluir trechos mais curtos ou prazos contratuais?


Barcelos: Ainda é cedo para ter uma total percepção sobre o que pensa o novo ministro [dos Transportes], mas vejo dentro da própria ANTT uma vontade de aperfeiçoar a modelagem dos projetos, para diminuir os riscos dos investidores e gerar mais demanda nos leilões.


Os riscos que ainda precisam ser melhorados são em relação aos riscos geológicos, os riscos ambientais e principalmente os riscos relacionados a aumento dos custos de insumos durante a vigência dos contratos.


BNamericas: O governo poderia endurecer o processo de licenciamento ambiental?


Barcelos: O que as empresas não querem é maior imprevisibilidade. Os órgãos ambientais no Brasil precisam mitigar incertezas adotando mecanismos que deixem claro nos contratos quais são as exigências de mitigação de impactos ambientais.


Sobre o licenciamento, o problema que vejo é na demora dos processos de licenciamento ambiental. Os atrasos em licenciamentos atrapalham o sucesso dos projetos.


É necessário haver uma sensibilidade dos órgãos ambientais para reduzir estes prazos.


BNamericas: Qual será o papel do BNDES no segmento rodoviário?


Barcelos: É cedo para saber se o BNDES vai continuar sendo um estruturador de projetos de concessão, mas seria bom que continuasse estruturando novos projetos.


Paralelamente a isso, será importante que o BNDES trabalhe para consolidar o modelo de project finance non-recourse para os projetos de rodovias. Já há iniciativas com relação a isto, mas precisamos ganhar mais escala.


Este modelo de financiamento isola o fluxo de caixa das empresas e as deixa com balanço livre para participar de novos contratos.


BNamericas: Qual é a sua opinião sobre o esforço do setor de cimento para promover o uso de pavimento rígido, usando cimento em vez de asfalto em ruas e rodovias?


Barcelos: Há vários estudos paro uso de pavimento rígido, mas um desafio que se coloca é sobre o custo de manutenção. Manter este tipo de pavimento não é algo trivial: há indicações de que esse pavimento é mais durável e resistente que o asfalto, mas quando há necessidade de recuperação, o trabalho é maior.


Isto não é uma conta simples, mas é fato que precisamos estudar formas mais eficientes e sustentáveis de pavimentação.


BNamericas: O setor ainda está pressionado pelos custos, principalmente no asfalto? Os contratos de concessão podem ser devolvidos por questões de custo?


Barcelos: Falamos um pouco sobre a eliminação de incertezas no setor e essa questão de custo está associada a isto. Tivemos uma flutuação de preço muito grande durante a pandemia e isso causou grandes cicatrizes no fluxo de caixa de muitas empresas.


Até agora não temos visto a ANTT fazendo um movimento para resolver a situação, porém ainda é cedo para dizer se os contratos de concessão que tiveram grande aumento de custos serão devolvidos, uma vez que a devolução de contrato é sempre uma medida drástica.


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