O Brasil inaugurou a primeira planta-piloto para produção de biocombustível sustentável de aviação. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Petrobras, a Embrapa e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. O objetivo é desenvolver uma tecnologia nacional para produzir combustível a partir de resíduos agrícolas, como bagaço de cana e óleo de fritura.

Leitura rápida:
Projeto pioneiro no Brasil para produzir combustível ecológico de aviação
Apoio do MCTI e parceria com o Senai
Laboratório em Natal (RN) produzirá 5 litros/dia de Syncrude, um petróleo sintético
Syncrude será analisado e certificado pela ANP para uso como combustível de aviação
Se aprovado, modelo industrial será desenvolvido para atender aeronaves de grande porte
Mercado de SAF atrai indústria de aviação e empresas de combustíveis que buscam descarbonização
SAF faz parte do projeto "Combustível do Futuro", do governo brasileiro
Um projeto pioneiro no Brasil para desenvolver combustível ecológico de aviação (SAF, na sigla em inglês), lançado recentemente, tem o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Laboratório de Hidrogênio Verde e Combustíveis Avançados, localizado no Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), em Natal (RN), deverá produzir 5 litros/dia do combustível, além de realizar pesquisas sobre a viabilidade e avaliações sobre os aspectos técnicos necessários para a produção.
Os principais objetivos do projeto são a redução das emissões de gases de efeito estufa na aviação civil o aproveitamento de resíduos que seriam descartados ou queimados, a geração de emprego e renda para os produtores rurais e a diversificação da matriz energética do setor aéreo. Busca também fonecer estímulo à inovação e à pesquisa científica, fortalecer indústria nacional de biocombustíveis e, claro, contribuir para com o desenvolvimento sustentável do país.
O SAF é combustível alternativo ao querosene de aviação, que pode ser produzido a partir de diversas fontes renováveis, como biomassa, resíduos orgânicos, hidrogênio verde e glicerina. A glicerina é um coproduto da indústria de biodiesel, que tem uma grande oferta no Brasil e um baixo custo. O produto tem o potencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor aéreo em até 80%, contribuindo para os objetivos brasileiros relacionados à descarbonização da economia.
A planta-piloto instalada no ISI-ER tem capacidade para produzir até 5 litros por dia de Syncrude, um petróleo sintético que pode ser transformado em SAF. O Syncrude é obtido a partir da glicerina por meio de um processo chamado reforma a vapor, que usa vapor d'água e um catalisador para converter a glicerina em uma mistura gasosa de hidrogênio e monóxido de carbono. Essa mistura é então submetida a outro processo chamado síntese de Fischer-Tropsch, que usa outro catalisador para transformar os gases em hidrocarbonetos líquidos.
O Syncrude produzido na planta-piloto será enviado para análise e certificação pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que irá verificar se o produto atende aos requisitos técnicos e ambientais para ser usado como combustível de aviação. Se aprovado, o Senai deverá desenvolver um modelo industrial que possa ser escalável, atendendo aeronaves de grande porte. A expectativa é obter a certificação até dezembro deste ano, o que permitirá a comercialização do SAF para a indústria aeronáutica.
O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Guila Calheiros, afirmou que a inauguração do laboratório é um marco significativo na jornada brasileira rumo à transição energética justa e inclusiva. Segundo ele, o MCTI tem atuado de forma assertiva nas áreas de energias renováveis, combustíveis sustentáveis e tecnologias de baixo carbono. "O etanol e o biodiesel são exemplos da atuação conjunta do MCTI com instituições científicas e tecnológicas e o setor privado, que resultou em programas que geraram grandes benefícios econômicos, sociais e ambientais para o país", disse.
O mercado de SAF vem atraindo a atenção da indústria de aviação, que busca alcançar metas agressivas de descarbonização, e de empresas de combustíveis como a Raízen, que recentemente anunciou certificação de seu etanol produzido em Piracicaba (SP) para a fabricação do SAF. O SAF também está na mira do governo brasileiro, que deve incluir diretrizes para o combustível no projeto chamado "Combustível do Futuro", parte de um pacote "verde" que o Executivo pretende aprovar no Congresso ainda neste ano.
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